Este é o “Mirror Blog” de “Uma Pequena História na Net…”. Aqui poderás ler a história do início para o fim. Este blog consiste num só post que será actualizado mensalmente.

quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

A História

Tudo começou naquela noite. Uma noite de Inverno rigoroso. A chuva inundava a rua deserta e o vento empurrava-a contra as paredes da minha casa. Eu encontrava-me na segurança da minha sala. Olhava pela janela, enquanto me perdia nos meus pensamentos.
Desperto, repentinamente, para a realidade, pelo som de (…) um dedo que me tocava na janela. Era só mesmo um dedo que eu via. Magro, sujo e atencioso. Como que a dizer que existia. Eu de um lado do vidro. O dedo a gotejar toques na minha janela. Aproximo-me e espreito. E sorrio porque via (...) um olhar de calma, de onde o brilho daqueles olhos perdidos, quase que tocava na minha alma. arrepiei-me como se ele me estivesse a ler os pensamentos.. olhámo-nos durante breves minutos.. o dedo voltou a tocar levemente na janela, como que a dizer.. "vem comigo", e eu (...) convidei o dedo para jantar. Ele entrou e arrastou todo o seu corpo consigo, embora fosse evidente: o seu dedo gasto era quem ele era. Dedo agitado, aquele. Dançava sobre a mesa. Rodopiava, cantando, com os garfos. E então percebi. Aquele dedo pertencia a um piano. Fechei os olhos e (...) Imaginei uma música alegre, daquelas que que nos arrepiam, tocada por mim, se tivesse jeito.
Que faço agora? Pensei eu, sem querer olhar bem para o corpo que o trouxe aqui, para perto de mim....eu meto-me em cada uma...Pensei, quase desesperada....Ergui a cabeça e olhei o corpo, o pescoço, os seus olhos (...) límpidos, deixavam por momentos escapar uma lágrima que lhe escorria pela face branca como a neve lá fora. Cheguei mais perto do corpo e pude sentir que não libertava qualquer réstia de calor. Um corpo que aparentava uma vida árdua e desgastante. Como teria ele chegado até ali? Foi a primeira pergunta que (...) não fiz. Fiquei sozinho com as palavras que morriam em mim. Pensava quem era aquele que me olhava e me (...) me...me...me...
Me o quê, raios partam isto, porra. Assim não vou a lado nenhum! Parece o romance do Snoopy que há quarenta anos não sai do "era uma noite fria e tempestuosa".
Desculpem os leitores esta franqueza de linguagem, mas nenhum escritor é de ferro e isto de escrever por encomenda é ofício cão e muito propenso a achaques, particularmente nos casos em que o talento é minguado, o que não sendo, modéstia à parte, o meu caso - far-me-ão essa justiça-, não obsta a que também tenha os meus dias lixados.
Sucede que ontem, ao jantar, não resisti à orelheira e quando assim é, o melhor é esquecer o dia seguinte para fins de talentos gramático-literários porque, é certo e sabido, farei o papel de Snoopy em cima da casota.
É nestes dias que aproveito para tratar das coisas terrenas, tipo cortar as unhas dos pés ou...ou..ou...cortar o cabelo. Genial! É isso mesmo! Cortar o cabelo. Vou cortar o cabelo. Assim como assim há já meses que pareço um cão de água.
Para benefício e ilustração dos leitores, saibam V. Exas. que temos na nossa cidade o melhor barbeiro do distrito. Sem bairrismos, o título é conferido unanimemente - até pela concorrência- ao Neca Barbeiro, profissional com quem tenho o privilégio de privar e a quem o meu pai confiou, há 40 anos, a tarefa de domesticar a minha exuberância capilar.
Diga-se, em abono da verdade, que cliente que entre na barbearia do Neca deve ir preparado para duas coisas:

- o leque de opções oferecidas à freguesia varia entre o "corte à francesa" ou "à escovinha". Só. Ou um ou outro. Nada de mariquices, amigo Silveira;
- o saber enciclopédico do barbeiro sobre os segredos e macetes da criação de canários, pintassilgos e rabecos, bicharada devidamente exposta no estabelecimento, em quantidade faraónica.

Vestido o casaco, apagada a beata, bati a porta atrás de mim e num pulo estou no ascensor a assobiar a musica da Floribella ( engraçado: nunca tinha usado a palavra ascensor e soube-me bem).
Sozinho, faço aquilo que faz toda a gente que se acha sozinha no elevador.
O maquinismo parou no 3º andar, para receber uma mulher, recente aquisição do prédio.
Tinha um rosto para o feiote, por sinal. Mas, no entanto (...) tinha um corte de cabelo espantoso. E decidi deixar de ir ao barbeiro. Afinal, parecer um cão D'água sempre me ajuda a não me afogar na banheira.
E afastei-me para ela entrar. Na verdade, caber é mais exacto, porque no raio do elevador só cabem dois magros ou um gordo. E assim fomos, os dois, viagem fora, na aventura de descer até ao rés do nosso chão. Saí primeiro e nem lhe segurei a porta. Quis saber como reagiria ela a esta deliberada deselegância. E ela olhou para mim e disse: "Belo corte!" e riu estrondosamente como quem sabe (...) perfeitamente o individuo interessante e modesto que sou. Aquela gargalhada sonora, impulsionou-me a fazer um convite para, dar dois, três ou quatro dedos de conversa enquanto sorvíamos um belo de um café na tasca do Tinito. Ela, de ar limpinho e rosadinho, nem se negou à companhia. Só me disse que o melhor seria marcar uma espécie de ritual diário da bica. Justificou-se: - Faço parte de algumas seitas e nem imaginas como é dificil encontrar pessoas para estas andanças. Os namorados então, nem se fala. E o tempo, ah isso tem que ser tudo controladinho.
AHAHAH! - agora foi a minha vez de rir. Note-se que até tenho a mente aberta e no meu ponto de vista, não há nada mais interessante que ser gozado com estilo. Prosseguimos, então para o referido tasco (...) pela rua principal. Pelo caminho explicou-me os motivos de se ter mudado para a nossa simpática freguesia.
"Sabe, neste país, quem quer ser professora não se pode prender a um local..." e continuou por aí fora, contando um pouco da sua vida. Não que eu tivesse perguntado.
"Zé, são dois cafés!" disse eu assim que cheguei à "tasca".
Sentamo-nos e continuamos a conversar. De repente somos interrompidos pelo som das sirenes da policia. Todas as pessoas presentes levantaram-se rapidamente e foram para o exterior da tasca. Nós não fomos excepção.
"O que é que está acontecer?" perguntei ao António, que era o "central de informações" cá da zona.
"Bem, parece que (...) um individuo armado, parece que em parvo. Se atreveu a entrar no lar aqui em frente e ameaça explodir com todas as arrastadeiras que encontrar. Especula-se que seja de um grupo organizado, de uma seita ou que seja, apenas um parvo. - replicou rapidamente o António.
A minha companhia pró café ficou visivelmente perturbada, tantas vezes tinha assistido a situações semelhantes na escola da Brandoa, que recordou a última peripécia que viveu com dois dos seus alunos. - Saímos para uma visita de estudo, era o projecto área escola daquele ano, os quartos de pensões em Lisboa, estávamos na última semana do projecto, já a redigir o documento final, quando num restaurante japonês ali bem perto alguém ameaçou cozer o sushi se não lhe fossem entregues quatro crepes um "shop-soy" de lulas e uma sopa van-tan. Foi uma experiência horrível. Lembro-me com se fosse ontem.
Que mulher interessante pensei eu. Conte-me mais sobre esse projecto área-escola (...) que deve ter sido interessante.
"Por acaso até foi" respondeu-me e continuou "O tema era imigração e visitamos vários locais nos arredores de Lisboa. Foi bastante chocante algumas situações que vivemos, mas principalmente foi chocante ver como em muitos casos os bairros sociais conviviam com as zonas chiques. Embora, devo dizer, que...